quinta-feira, 21 de julho de 2011

Meu encontro com um homofóbico



Sou Sacerdote Anglicano e, esta semana  estive na Câmara de Vereadores de Campo grande, participando como cidadão, de uma sessão na qual se discutiria o reconhecimento da utilidade pública da Associação dos Travestis do MS. Nada mais justo, diante do belo trabalho que essa entidade presta a uma parcela da sociedade, mas que não é direcionado apenas a esse segmento, beneficiando também outros setores da sociedade.

Enquanto estava sentado aproximou-se de mim um senhor, apresentando-se como pastor e pedindo que conversássemos um pouco. Evito mencionar a Igreja com a qual ele se identificou, por não saber se a informação procede, e também porque prefiro imaginar que nem todos os evangélicos que freqüentam essa Igreja se identifiquem com esse pastor.
Rev. Carlos Calvani,
Sacerdote da Igreja Anglicana.
Pastoral da Divesidade Sexual
em Campo Grande.

Nossa conversa poderia ter sido um agradável debate, com o qual estou bastante acostumado em virtude de minhas atividades acadêmicas. Porém, a arrogância com a qual fui questionado logo me mostrou que eu estava diante de uma pessoa que só saberia conversar em seu próprio nível.

Sua primeira pergunta foi saber com que base eu estava apoiando o movimento LGBT. Imediatamente me veio à lembrança a pergunta dos fariseus a Jesus: “com que autoridade fazes isso?”. Suas palavras soavam como se fosse o representante de todos os evangélicos de Campo Grande e seu olhar inquisitorial quase me temer que alguma fogueira já estivesse acesa.

Ainda assim, pensando ser possível um bom diálogo, disse-lhe que em Campo Grande sou padre da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, a única Igreja no Brasil (até agora) a pronunciar-se nacionalmente de modo favorável à decisão do STF e que tem uma bela história na luta pela dignidade humana.

Disse-lhe que não devia satisfações a ele, ou a qualquer pastor evangélico ou a qualquer bispo católico mas sim a meu rebanho e a meu bispo que é também o Arcebispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e que, corajosamente, assinou o pronunciamento em apoio à decisão do STF.

Ele então passou a citar outro indivíduo que já fez parte de nossa Igreja no passado, mas que hoje nada representa para nós, não merecendo nem mesmo que seu nome seja lembrado.

Irritado, o pastor homofóbico começou a apelar para a Bíblia, com frases dignas de um aprendiz de Hitler. Chegou a dizer, apontando para as travestis que ali estavam, que “essas pessoas não tem fé”.

Ora, quem é ele para dizer isso? Eu poderia ter dito que já estive com elas, orando e percebi a imensa fé em seus corações. Aliás, quando deixei o recinto, despedindo-me da Cris Stephanny (Presidente da ATMS) e de outra travesti, essa me disse que tinha pensado em ir à Igreja no domingo anterior, mas que não foi porque bebera um pouco de cerveja no almoço.
Quer maior demonstração de fé, respeito e reverência ao momento do culto? Talvez algumas igrejas não queiram que os travestis freqüentem seus cultos por medo de que identifiquem entre outros freqüentadores também alguns de seus clientes...

Visivelmente encolerizado, o pastor homofóbico começou a dizer que estavam querendo “criminalizar sua fé”. Era o grito lancinante de uma alma medíocre e medularmente ferida.

Nenhuma fé pode ser criminalizada. Ninguém, em sã consciência pensa em criminalizar a fé islâmica ou judaica somente porque alguns radicais promovem atentados terroristas em nome de Alá ou da Torah. A essência da fé, seja em qual religião for, é o amor e o respeito. Contudo, se alguns criminosos deturpam a fé, esses devem, sim, ser criminalizados.

Atualmente, em Uganda discute-se a pena de morte para pessoas homossexuais, e a discussão está envolta em citações bíblicas, do Alcorão e de textos de outras religiões. É isso que os pastores homofóbicos desejam para o Brasil? Se chegarmos a esse ponto, talvez o governador Puccinelli nomeie o pastor homofóbico como carrasco, o que certamente lhe dará muita alegria “espiritual”.
Insistentemente, ele ainda chegou a apontar para os travestis presentes dizendo que eram “abomináveis”, enquanto abominável, na verdade era ele. Cansado de ser exposto aos comentários de um ser tão abjeto, deixei-o falando sozinho e voltei para perto do grupo das travestis, onde o papo estava bem mais animado e alegre.

Enquanto isso, sua esposa conversava com a minha. Minha esposa é mais paciente e conversou mais tempo com ela. Porém, senti pena daquela senhora, que segue caninamente aos comandos de ordem de seu marido pastor, pois bastou um sinal dele (poderia ter sido um assovio), para que ela se levantasse e se afastasse de nós.
Talvez, ouvindo há anos os textos bíblicos que ordenam que as mulheres obedeçam os maridos, ela nem questionou e se foi. Melhor faria se largasse de vez esse homem, para que não se torne cúmplice dos possíveis crimes que ele venha a cometer.

Enfim, esse foi meu encontro com um pastor homofóbico, e só me resta agora rogar para que Deus, em sua graça e misericórdia, tenha piedade de alma tão pobre e tão medíocre, e pedir que Deus nos livre de um país com esse tipo de evangélicos.


E Jesus afirmou: 
Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas entrarão antes de vocês no Reino dos céus”
(Mateus 21.31).

Por Rev. Carlos Calvani.

terça-feira, 19 de julho de 2011

20 de AGOSTO de 2011: CAFÉ COM CINEMA

 
A Pastoral da Diversidade Sexual da Igreja Anglicana (IEAB) em Goiânia e o Centro Cultural CARAVIDEO convidam você para assistir a estes documentários e participar do debate emfrentando a temática: 

PROSTITUIÇÃO
Dia 20 de Agosto de 2011 às 19:00 
Local: Centro Cultural CARAVIDEO
Rua 83, n.261, Setor Sul, Goiânia.
fones: (62) 3091-7416 e 9299-9216

ENTRADA FRANCA

Lembrem-se de trazer uma bebida e algo para comer.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

EVENTOS DO SEGUNDO SEMESTRE DE 2011

A Pastoral da Diversidade Sexual realizará os seguintes eventos no segundo semestre de 2011:



20/ago – Café com Cinema – temática “Prostituição”.

17/set – Ágape – temática "Corporeidade e sexualidade: descobrindo o corpo em Cantares de Salomão”.

15/out – Café com Cinema – temática “Homofobia e crimes de ódio”.

19/nov – Ágape – temática “Eden: fazendo do planeta Terra um paraíso – por um Desenvolvimento Sustentável”.


Os eventos acontecem no Centro Cultural CARAVIDEO, Rua 83, n. 361, Setor Sul, Goiânia-Go. Sempre num dia de sábado, às 19:30hs. Os participantes trazem uma bebida e alimentos para compartilhar. A entrada é franca.


Organize sua agenda e venha participar conosco!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

INSTINTO ANIMAL

Todo tipo de preconceito e discriminação é f*da!


Os seres humanos são regidos por fortes instintos animais, dentre eles a formação de grupos sociais. Assim como entre várias espécies de mamíferos, os seres humanos formam grupos: famílias, clãs, comunidades, vilas, associações, sociedades, igrejas.

Uma vez pertencentes a um grupo, os seres humanos se identificam plenamente com o mesmo e o defendem “com unhas e dentes”, muitas vezes perseguindo, oprimindo, destruindo outros grupos. Lembra a luta da sobrevivência que existe entre os grupos de animais. E a vida, na natureza, depende disto, da formação de grupos. Isolado um animal muitas vezes não sobrevive, mas em grupo consegue viver e se sustentar.

Nessa animalidade, o grupo busca de toda maneira desenvolver-se e sobreviver, mesmo que seja às custas da exploração e morte de outros grupos. Num grupo o indivíduo zela pelos outros, ama os outros, morre pelos outros. Mas quando se depara perante pessoas de outro grupo, geralmente o despreza ou até persegue.

Podemos exemplificar bem isto: pensem num grupo familiar, constituído por uma mãe, chamada Eva, e um filho, chamado Erval. Eva é capaz de morrer pelo seu filho, de passar fome para garantir o alimento de seu filho. Mas Eva não está nem aí para o filho dos outros. O filho de uma estranha, que não faz parte da família de Eva, pode passar fome, frio, necessidades. Isto não importa para Eva, o que importa é que Erval não pode passar fome ou outras necessidades. Esse egoísmo é típico dos animais. Uma leoa não está nem aí para os filhotes de outra leoa, aliás é até capaz de comer esses filhotes estranhos. Mas seus filhotes ela defende com unhas e dentes, ela ama-os. Daí percebe-se que aquilo que convencionalmente é chamado amor materno, na verdade é apego derivado de instintos naturais e animalescos. Isto vale para qualquer tipo de grupo.

Hoje o ser humano não está mais submetido às revezes e intempéries da natureza. A humanidade desenvolveu maneiras espantosas de processar os recursos naturais e garantir a sobrevivência de todos. Mas os seres humanos continuam a formar grupos, seguindo seus milenares instintos, e rivalizando entre si. Afirmam a superioridade moral, intelectual etc., de seu grupo, em detrimento de outros. E nisto entra a religião!

Os vários grupos cristãos, sejam católicos, protestantes ou outros, costumam, cheios de soberba, afirmar sua superioridade, categorizando-se como os eleitos de Deus, e desprezando os outros grupos, especialmente aqueles que não seguem seus padrões morais.
Aí entra a HOMOFOBIA. Os grupos cristãos querem impor a todos os brasileiros sua religião e moral. Querem que as pessoas de outros grupos, mesmo não professando as mesmas crenças, sigam à força suas regras. Num estado democrático e laico, como o Brasil, querem negar direitos humanos básicos às pessoas LGBT’s.

Se Padres, pastores e outros religiosos acreditam que homossexualidade e transexualidade são pecaminosas, que eles se resguardem de cometer tais atos. Entretanto não podem impor um padrão comportamental a todos os brasileiros. E é isto que querem, tirar a liberdade das pessoas que não são de sua religião, querem impor essa religião à força, como fazia a Igreja Católica Romana na Idade Média.

Um ato sexual entre pessoas de mesmo gênero, adultas e responsáveis, não é crime, pois não prejudica ninguém, se há algum prejuízo é para elas mesmas. Entretanto perseguir, humilhar, cometer atos de violência verbal ou física contra pessoas devido à sua sexualidade é um ato criminoso. Mas a lei brasileira não contempla os crimes de ódio originados na homofobia e transfobia. E lideranças cristãs católicas e evangélicas lutam, junto aos parlamentares brasileiros, para que não haja a aprovação da PL 122, que exatamente criminaliza esses atos de ódio homofóbicos.

Essas mesmas lideranças acham um absurdo que o STF tenha identificado na constituição os direitos legais de casais homossexuais, reconhecendo-os como uma unidade familiar. Aí entra o problema da imposição. Tudo bem que esses grupos cristãos cataloguem a homossexualidade como pecado. Mas a partir disto negar direitos às pessoas LGBT é outra coisa. É instinto animalesco e falta de senso. Se esses cristãos pensam que homossexualidade é pecado, que eles o evitem. Mas eles deveria tem uma postura verdadeiramente cristã e cidadã de reconhecer que existem pessoas que não professam essa crença mas que tem essa sexualidade. Esses cristãos deveriam parar de comportar-se como os fariseus e saduceus que mataram Jesus porque tinham preconceito com ele, por ser pobre e Galileu. Antes, esses cristãos deveriam fazer como Jesus, defender os direitos de todos os seres humanos, não importando de qual grupo.

Num estado democrático e laico (ou seja sem religião oficial), os direitos da minorias devem ser equiparados aos direitos da maiorias. A maioria heterossexual tem direito de casar-se no civil, e por isto vários outros direitos são garantidos: pensão, herança, partilha de bens, etc. Por isto também os casais homossexuais deveriam também ter esse direito. Os grupos LGBT’s não querem interferir nas religiões, não querem ser aceitos à força pelos grupos cristãos. Mas apenas querem que o Estado garanta seus direitos humanos: direito ao casamento, direito a serem reconhecidos como unidade familiar, direito de serem protegidos de crimes de homofobia. As religiões poderão continuar pregando suas opiniões acerca da sexualidade, negando-se a fazer cerimônias de matrimônio entre pessoas de mesmo sexo, negando-se a receber pessoas LGBT’s como membros de seus grupos.

O que as pessoas LGBT’s querem é apenas viver em paz, coexistir pacificamente com outros grupos humanos, construir um Brasil mais justo e feliz, entretanto a cidadania não pode ser negada a ninguém, muito menos devido à sexualidade.

Os grupos cristãos fundamentalistas misturam religião e Estado em suas cabeças. Por eles o Brasil seria um país teocrático, pois assim imporiam sua religião à força. Percebe-se claramente o instinto animal egoísta de defesa de grupo e perseguição de estranhos. Cristãos, que deveriam ser mais livres de seus instintos e mais evoluídos, já que se consideram filhos de Deus, comportam-se como um animal qualquer, perseguindo pessoas que não são de seu grupo...